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Foto:  https://ddd82.com.br 

 

RAIMUNDO PALMEIRA
 ( BRASIL – ALAGOAS )

 

Mestre em Direito pela UFPE; Professor da UFAL;

Advogado Criminalista; | Procurador aposentado de Maceió/AL. 

 

ANTOLOGIA DELICATTA VIII : poesia, contos.    O rganização Luiza Moreira. São Paulo: Editora Delicatta, 2013.       154 p.  ISBN 978-85-64167-S83-4   

       

PORQUE ÀS VEZES SOU TRISTE

Hoje, quebrei espelhos que refletiam esperanças,
Pois amanheci cansado de esperar sempre em vão;
Fiz em pedaços quimeras e coloridas lembranças
E resolvi não voltar ao meu olhar à paixão.
Lancei ao mar talismãs, pétalas seca de flor,
Que guardara entre amarelas páginas de leitura,
Esqueci de ansiar por uma jamais vinda emoção,
E decidi seguir só por seguir, num cantar sem partitura.
Desconstruir os meus conceitos de auto-realização,
Hoje, eu assumi que meu mundo é feio, e feito sem cores,
Quis me aceitar como um ser sem graça, envelhecido;
Botei cimento nos canteiros e arranquei minhas flores;
Eu rebati ilusões de querer e ser querido, cuspi amores
[ressequidos.
Hoje, eu acordei e fiz ao mar o último resquício da criança
Que teimava em habitar o eu cansado, estilhaçado;
Engavetei os meus poemas, esqueci os passos de dança,
Fiquei trilhas de prantos no meu rosto quase enrugado.
Hoje, aposentei definitivamente minha alegria histriônica,
Numa definitividade relativa, mas nem por isso menos
[densa;
Desafinei minhas canções, fiz minha rima desarmônica,
E mergulhei em solidão, na minha angústia mais intensa.
Quebrei brinquedos, talismãs, quebrei conceitos;
E quis ser só poeta triste de alma desmascarada,
Rasguei jejuns, rasguei palavras, ressaltei os meus defeitos
Pus gelo ao verso e fiz minha rima mal rimada.
Hoje, ostentei por sobre a pele, inspiração por tatuagem;
Desfiz encontros, quebrei parâmetros, estraçalhei últimos
[beijos,
Cobri espelhos e pus ao rosto uma feição de paisagem;
Pus pés ao chão e agrilhoei, firmemente os desejos.
Porque às vezes é inevitável como declínio do conviver;
Acompanhar o andar da idade, numa certa depressão,
Fazer-se triste, triste e só, não ter medo de perder,
Lamber feridas, lamber as marcas fincadas no coração.


REDESENHAR-SE

Você sofre? E  por que sofre? Se, afinal,
Não há tempestade que não passe um dia;
Não há desilusão que não tenha final;
Não há tristeza que não cesse, ao vir a alegria.
Você sofre porque eventualmente sonhou em vão,
Viu caírem por terra, uma a uma, as suas fantasias;
Talvez até se julgue descrente da paixão
E se faça triste e só, só em melancolia.
Abra a janela, pois a noite insone já se foi,
E há uma rosa que desabrocha em vida para a vida;
Há um novo sonho à espera de ser tecido no depois;
Há uma ave linda que, em seu jardim, espera ser ouvida.
Há um rio que se renova a cada segundo;
Há, mesmo ao longe, um mar que se faz crer em  
[eternidade;
Há — quem sabe? — à tua espera um novo amor profundo
Que te haverá de envolver em tanta felicidade.
Enxuga, então os teus olhos vermelhos,
Tira do rosto os traços de quem sofreu,
Olha-te e perceberás que bem além do espelho,
Já se prepara a existir teu novo eu.
Porque é importante ter conhecimento,
Que as ilusões se vão, porque o destino não as quis,
E que o ser humano, faz-se do firmamento,
Mortal, mas traz em si o dom de ser feliz.



RETROVISOR

É importante olhar para trás
E ver a vida em cada lembrança;
Mesmo em sonhos que  não voltam mais;
Sob os cabelos brancos, sempre há uma criança.
É importante reduzir a velocidade
Estacionar e olhar pelo retrovisor,
Saber sentir, sem sofrer, cada saudade,
E em cada uma descobrir o gosto do amor.
Porque há dias na vida da gente,
Em que bate uma espécie de desilusão;
Nesses momentos, se faz emergente,
Recuperar o dom de ter paixão.
Cada saudade ajuda a resgatar
Os pedacinhos de ilusões perdidas,
Reconstruindo o dom de sonhar,
Porque o sonho alicerça a vida.

*

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Página publicada em novembro de 2023

 

 

 

 


 

 

 
 
 
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